A tranquilidade e o pouco movimento que vinham marcando as últimas semanas nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Pelotas aparentemente acabaram. A segunda-feira (09) foi caracterizado por filas, alta procura de teste Covid-19 e uma série de reclamações da população.

A reportagem do Diário Popular percorreu algumas Unidades Sentinelas - exclusiva para pacientes com sintomas gripais - e o que viu e ouviu foi unânime: movimento intenso, servidores sobrecarregados e inúmeras pessoas não conseguindo acessar o serviço. Na UBS Cruzeiro, por volta das 16h, o pessoal que aguardava na fila para chegar até o guichê tinha acabado de receber a informação que não seriam atendidos, pois não havia mais condições de realizar os testes. Erika Marques era uma das dezenas de pessoas que aguardavam a testagem. "Liguei para o posto de manhã e expliquei que tive contato com positivos, mas antes das 10h já me disseram que não estavam mais fazendo os testes. Vim às 13h30min e fiquei na fila para chegar na recepção, depois das 16h, e saber que não vou ser atendida", relatou.

Vanderson Silveira foi até a UBS na parte da manhã, mas quando chegou ao local a informação foi de que não estavam mais realizando os testes. Voltou à tarde e o cenário era o mesmo. "Ninguém foi capaz de ir na fila nos avisar de alguma coisa. Não temos nem como comprovar no trabalho que estávamos aqui", disse, endossado por todos que seguiam na frente do prédio esperando uma resposta. De acordo com eles, a enfermeira responsável foi chamada, mas apareceu na porta e não concluiu o diálogo. Outro funcionário ficou de entrar em contato com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e dar um retorno, mas não apareceu mais. A equipe de reportagem não enxergou nenhum servidor para tentar contato.

Na Unidade Leocádia, uma trabalhadora contou que desde o meio da semana passada o movimento começou a se intensificar, mas nesta segunda bateu o recorde. "Estávamos com uma média de 50 testes por dia e hoje realizamos 137, sendo 35 positivos e não conseguimos atender todos que vieram até aqui", falou. Outro ponto destacado por ela é que recentemente os funcionários contratados não foram renovados. Então, o quadro passou de sete para quatro trabalhadores. Na Unidade Salgado Filho, o cenário é praticamente o mesmo. Não eram nem 8h e a fila já estava formada. Dos 113 testes feitos, 34 positivaram. "E veio uma enfermeira da SMS para reforçar os atendimentos e mesmo assim muita gente foi embora sem fazer o exame", disse um grupo de servidores. Em função dos contratos temporários, um funcionário da Salgado Filho já foi desligado e a tendência é de que mais cinco sejam nos próximos dias.

O que diz a SMS?

A SMS garante que está observando e monitorando o aumento da procura por testagens para verificar a infecção ou não pela Covid-19 nas Unidades Sentinelas. De acordo com a pasta, parte da dificuldade encontrada pela população na busca por fichas para o atendimento durante a segunda-feira, está relacionada a problemas pontuais com as equipes que atuam nesses locais. "Por isso, a SMS já está remanejando novos profissionais, a fim de reforçar o quadro de funcionários", afirmaram.

Questionada se o aumento no número de casos observado possa ter ligação com a flexibilização do uso de máscaras, a secretária de saúde, Roberta Paganini, acredita que tudo isso pode ser reflexo dos feriados dos últimos meses. "O carnaval aliado à flexibilização das medidas de combate ao coronavírus e o fato de muitas pessoas que possuem sintomas gripais circularem nas ruas sem máscara e sem realizar o isolamento", completou. Roberta também presume que o fechamento do Centro Covid possa estar respingando nesse aumento de buscas por atendimento. "O público que está procurando os testes, neste momento, possui sintomas leves. Dessa forma, o ideal é buscar as Unidades Sentinela", falou. Em relação ao outro serviço oferecido no Centro Covid, de internação de pacientes, a titular da SMS reforça que, no momento, o município não registra falta de leitos. Ou seja, todos os pacientes que necessitam de internação estão sendo amparados.

Alerta da UFPel

Na última sexta-feira, o Comitê Covid-19 da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) emitiu nota técnica com alerta sobre a volta da alta transmissibilidade do coronavírus. Além de mencionar os efeitos do abandono de medidas preventivas, como o uso de máscaras, os pesquisadores destacam o atraso da dose de reforço por parte de muitos pelotenses, o que prejudica a situação do contágio.